quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Impetuosidade em tempestades

  1. A literatura é a expressão interior de um ser "acabando-se à", "complementando-se à", sempre à busca de algo que as mãos pequenas ainda não tocaram. O poder da literatura também se faz quando, num olhar de outrem, conseguimos ver, ao menos o reflexo dos próprios olhos, ou, quiçá, do próprio intelecto, da própria emoção escondida. O que não deixa de ser um exercício de senciência, principalmente, quando a poesia das palavras nos toma ao torpor num só gole.Quero então escrever algo numa só inspirada, com o branco, aberto, das retinas da inspiração; ascendendo.Passo por um quadro intenso de êxtase ou apoteose, quando me deixo renascer no 'infinitivo perfeito'; sou aquilo, sou então o orgulho nascente do vácuo. Júbilo em carne viva. Chego a transbordar... faço prosas abusadas; enfrento batalhões; vigilante, mordaz. Luciferiano.O segredo está em glorificar "a" Vontade. Vontade de vida, vontade de existir, fazer existir.Além da vida, além da morte.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Eterno Retorno do Mesmo

Destarte todos os julgamentos, todos os anseios, todas as esperanças, todos os medos, todos os desejos, todos os prazeres, todas as dores, todas as paciências, todas as virtudes, todos os defeitos, todos os indivíduos, todos os corpos, todos os gemidos, todos os gritos, todas as mudanças (gerando mudanças), todos os risos, todos os prantos, todas as guerras,todas as sinfonias, todas as cores, todos os edifícios, todas as bandeiras, todos os talheres, todas as conquistas, todas as derrotas, todas as fugas, todas as decepções, todas as indagações, todas as certezas, todas as dúvidas, todos os sonos, todas as vidas, todas as mortes... Todos os silêncios... Todos os princípios, todos os meios, todos os fins...

... O Eterno Retorno do Mesmo.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Notas sobre o Socialismo

O que é o socialismo? O socialismo tal como ele é confessado hoje foi codificado pelo intelectual alemão Karl Heinrich Marx. Chamado de “socialismo científico”, embora apresente claras premonições sibílicas sobre acontecimentos futuros, ou Comunismo, ou em seitas personalistas como Maoísmo, Stalinismo, leninismo, entre outras mais ou menos semelhantes. Toda a base do pensamento, entretanto, é fruto direto de Marx, e a base representa exatamente: Crítica a sociedade capitalista (democrática, de competição e livre mercado), crença em uma futura sociedade comunista (na qual o trabalho é glorificado e todos são iguais), afirmação e incentivo a revolução violenta, estabelecimento de uma ditadura do proletariado (algo como um Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, por exemplo). Para Marx a sociedade ocidental européia de seu tempo havia entrado em um tipo de sociedade além da sociedade feudal, a sociedade capitalista, e após a sociedade capitalista naturalmente, e paradoxalmente também através da revolução violenta, seria estabelecida a sociedade socialista, e dela ao comunismo (modelo social não muito bem detalhado). Marx entende a historicidade como uma emanação de um Destino; não um destino metafísico, mas um Destino exercido pela ação do trabalho humano, e que estaria automaticamente levando a humanidade a um estágio melhor. Tal “destino iluminista filosófico” já fora antes dele anunciado por pensadores como Fourier, Condorcet, Comte e Godwin, também seu ideal de sociedade igualitária fora antes idealizado por Rousseau e Morus, sua visão determinista de História antecipada por Agostinho, Hegel e Bruno Bauer, o uso do termo “capitalista” antecipado por Proudhon, e sua teoria do valor-trabalho nada além de releitura das premissas de Adam Smith e David Ricardo. Marx estranhamente cita pouquíssimas vezes todos esses precursores; alguns aparentemente ele fez questão de ignorar, embora não seja ignorável que tenha lido e aprendido deles.

Sendo assim para Marx existia uma força chamada o trabalho humano que guiaria a humanidade e que não estaria em alguém em particular, mas no coletivo, e principalmente no coletivo trabalhador, quer dizer, nos funcionários mais básicos de uma sociedade. Poderíamos pensar então que não existe relevância no “alguém em particular” na filosofia de Marx – Estaríamos certos. O indivíduo é desprezível para Marx, e exatamente assim agiram seus adeptos, ignorando a individualidade natural das pessoas. Se a concepção de política, economia e sociedade de Marx fora uma miscelânea de seus precursores, seu ideal de humanidade era fruto direto de um pensador só: Ludwig Andreas Feuerbach. Para Feuerbach, autocunhado como “novo humanista”, a verdadeira religião dos homens deveria ser o próprio arquétipo do homem. O Homem, para Feuerbach, era a coisa em si, quer dizer, acima de todos os homens existira uma realidade metafísica – Leviatã, como diria o maquiavélico Hobbes – E essa realidade seria o Homem. Sendo assim, poderíamos pensar, em prol do Homem, assim como em prol dos deuses foram feitas cruzadas e inquisições, também pelo Homem cruzadas e inquisições poderiam ser feitas. Sim, exato, em prol do Homem, em prol do socialismo certo e futuro, e ignorando o realismo das coisas, o socialismo foi, e ainda é, um pensamento que varia de uma oposição fervorosa a tudo que não lhe agrada a uma ditadura intolerante. Como o próprio autor salienta no texto, em todos os lugares o socialismo representou a mesma opressão e foi igualmente abandonado quando as pessoas oprimidas experimentaram um pouco de ar de liberdade; inexplicavelmente a teoria perfeita foi uma prática incoerente rigorosamente em todos os lugares.

Tendo em vista minha pequena exposição, e que poderia ser mais ricamente entendida com a leitura do libertário maldito e dissidente Max Stirner, seria impossível para o socialismo supostamente real ser o efetivado ao invés do “incorreto socialismo” do século XX. Ao mesmo tempo em que ele promete uma utopia, uma realidade melhor do que a evidente, também ignorada que o trabalho humano não é uma besta invisível, mas uma coletividade feita de indivíduos, pessoas diferentes e únicas pelo direito natural garantido pela variabilidade genética. O socialismo, em última análise, é um ideal irremediavelmente fracassado.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Dialética cristã

[Estabeleça que Deus é ad hoc de si mesmo, vá à Reductio ad Absurdum, sic sic sic, volte ao ad hoc - Detalhe: abomine Quod erat demonstrandum - e por fim, se toda a falácia anterior for ineficaz, ataque com Argumentum ad metum].

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sobre a inexistência de Deus

Se Deus existisse e existisse livre-arbítrio:


Deus é eterno, seu princípio maior é sua perenidade constante. Toda a realidade flui de Deus, logo, tudo é ele. Então temos um Deus que está em tudo, constantemente, e é a própria totalidade.Estando em tudo constantemente ele, acertadamente, estaria em tudo, agiria em tudo, saberia de tudo. Seu principio maior, logicamente, sua base fundamental e seu âmago é a própria eternidade.Agora, um fato interessante:Se Deus sendo tudo permitisse uma sabedoria dentro de si, o Homem, e essa sabedoria decidisse agir por conta própria, logo, livre-arbítrio, então ela estaria claramente violando o agir constante de Deus, agindo por si, estaria violando a sabedoria de Deus, por agir fora de seu próprio campo de conhecimento e efetivamente estaria sendo uma potência própria.Se tais fenômenos ocorressem então Deus entraria em paradoxo. Estaria, de uma só vez, quebrando seu inquebrantável poder, desconhecendo um processo, desconhecendo um agir.Se Deus, por um só segundo abandonasse sua totalidade, estaria destruindo toda a sua existência em qualquer grandeza espaço-tempo.



Se Deus existisse e não existisse livre-arbítrio:

Se tão somente sem o livre-arbítrio seria possível existir um Deus (especialmente o Deus cristão), então a própria existência do Deus seria NULA. Sem o livre-arbítrio; tudo acontece por um Destino completo. Tudo, todas as ações, todas as coisas obedecem o pensamento de Deus ininterruptamente. Não existe pessoa boa ou má, mas pessoas de sorte e pessoas de azar. Absolutamente nada seria de responsabilidade humana; nada, nem o menor pensamento, nem a menor ação (obedecendo a perfeição de Deus). Por que alguém precisaria ir a uma Igreja? Não precisaria. Simplesmente já nascemos para o Céu ou para o Inferno.Por que obedecer as leis? Tolice, tudo é justificável: Tudo é Deus, incluindo genocídios, incestos, estupros... Tudo é Deus. Nada seria punível.Por que acreditar em Deus? ... Espere, agora temos uma contradição também no Deus sem livre-arbítrio: Se Tudo é o pensamento de Deus e mesmo assim existem ateus é porque a própria existência de Deus é um engano.



Mais claramente: Cogito, ergo sum = Existo porque percebo que estou existindo = Logo, não podem existir ateus. O pensamento de Deus; TUDO, o SER; não pode PERCEBER SUA INEXISTÊNCIA. Nenhuma realidade poderia perceber que não-existe, porque estaria assim entrando em paradoxo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Esperando Louise

Em um campo de ilusão.
Teatro do absurdo.
De repente; clarão!; ardente fascinação.

Nada digo, ninguém mo disse... Simplesmente; esperando Louise.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

À Senhorita L.

"Bela mocinha de Luz
Bela mente, seus segredos; canduras reluz
Bela mocinha da Luz, de canduras, doçuras d'luz".

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Liberdade agora

Hoje é o dia de ser livre.

SEJA

sábado, 15 de agosto de 2009

Minha musa

Minha musa é uma dríade, uma dríade do cabelo e dos olhos das mais profundas tripas de Erebus. Cor do mais pálido, vestes das mais simples e rústicas.

Minha dríade não tem carvalho, migra nos domínios de Calígena, e sussurra através dos meus ouvidos na noite enquanto a lua ilumina o meu quarto. Ela não é boa, talvez também não seja má, seu encanto é como o encanto de Hécate, não o encanto puro das sereias, mas bruto quase ameaçador. Ela não é tolerante, e despreza fraqueza, ironiza tolice e odeia baixeza. Altiva.

Minha Dríade encanta, na noite, sussurrando os mistérios do Caos, de sua ruína, de seu apogeu, e de antes.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Enfim o Carnaval

O Carnaval é certamente (provavelmente) a maior de todas as inúmeras hipocrisias brasileiras. O Carnaval é turismo sexual, vandalismo e principalmente um celeira para a aquisição de doenças sexualmente transmissíveis. O Carnaval é repugnante? Chamá-lo assim é ofender a repugnância, ele é algo de mais pobre, asqueiro e nojento. Ninguém pula mais que a Sífilis e com certeza quem mais brinca é a aids.



Por que ele existe? Para ser o grande bordel do mundo por alguns dias. Naturalmente, na visão de muitos brasileiros, todos esses fatores são pequenos se comparados aos poucos momentos de euforia alcóolatra que o bondoso Carnaval dará, também não podemos esquecer os orgasmos baratos e as traições. Ele não é uma exclusividade nacional, deduso que todos os outros são igualmente deploráveis; alguns mais imcubados, outros mais falsos, todos detestáveis.



Os foliões? Aquela gente religiosa e moralista, o tipo que satiriza um homossexual sem qualquer sentido de culpa e fala mal das meninas libidinosas com verdadeiro prazer? NÃO, no Carnaval são todos um mesmo lixo. Todos imorais, todos ridículos, todos animalescos. Primeiro o vômito e depois as cinzas, Tempos passam e as máscaras voltam, todos esperam o próximo ano.







E assim continuamos...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Uraeus

Marcas nas tábuas,
o beduíno e a íbis,
o disco e o cetro.

No berço das águas o menino que cala,
ao seu redor os crododilos, seus servos.
Na boca o segredo, ele é - ele será.

O rosto é ocultado pelo véu,
e aquele que manifesta-se no vento que move,
nas profundezas o cão que tudo destrói habita.

No chão é o marido, no céu é a esposa.
O Ka, o Ré, o Ba, que circundam e pertencem
São da Regra, que deifica e condena.

Dançam e cantam àqueles,
homens deuses,
deuses homens.

mortais imortais,
imortais mortais,
feitos um.

Então as máscaras são retiradas,
os odores cessam,
o silêncio domina,

e o Nilo corre

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O Oráculo de Éfira

I - O templo entre Aqueronte e Cocito

Quem nunca observou avidamente um acidente? Quem nunca praguejou com genuína fúria? Quem nunca riu de uma dolorosa trapalhada alheia?

Em todas essas ocasiões manifestamos partes de nossa alma que normalmente segredamos. Em uma visão mais atual, todas essas ações superficialmente indesejadas estão ligadas ao ego inferior ou a Sombra (como Jung definiria). A Sombra é a oculta animalidade, é o conjunto de nossas mais desequilibradas emoções, ela é o campo metafísico dos sentimentos rejeitados pela rotina da consciência. Por que existe a Sombra? Ironicamente para nossa proteção. Ela é o alerta contra os infortúnios (Aqueronte), o depósito de nossas lamentações (Cocito), a jaula de nossa raiva (Flegetonte), o lar dos tormentos (Erídano) e o oculto da alma (Lete).

Alguém atento questiona: "Por que SUPERCIALMENTE indesejadas?"

Porque, na verdade, como qualquer outra coisa, a Sombra busca sua perpétua subsistência (sua inércia). Ela reclama por ação quando permanecemos muito tempo em estado de calmaria, incita quando estamos furiosos, ela determina quando devemos fugir ou "perder o jogo de cintura"; Muito além, como um cão selvagem, ela consome o seu dono quando não é alimentada ou domada.

Como domá-la? Você já sabe. Quando ridicularizamos alguém, quando batemos com fúria na mesa do escritório, quando berramos um palavrão, e - mais louvável - quando admiramos um arrepiante trabalho artístico de terror.



II - Sacerdotes de Perséfone


Por que alguém dedicaria a sua veia artística para um trabalho tão penoso quanto a arte das sombras?

Principalmente pelos infortúnios da vida, pela predileção por assuntos mórbidos, ou em uma linguagem mais poética pela atração por coisas obscuras. Geralmente todos esses movimentos estão conectados e, não raro, a escolha pelo terror é pouco consciente e muito instintiva. A facilidade e o fascínio de alguns está ligado a envergadura de sua Sombra.

Escrever Terror é penoso, como já dito, por uma série de fatores: O reconhecimento é praticamente nulo (embora crescente em nosso período decadente), o trabalho artístico é seguramente o mais difícil, o público realmente dedicado é pequeno e a própria criação exige bastante disposição mental. Para escrever Terror é preciso dispor de uma perseverança tão grande quanto a imortalidade dos vampiros.

O melhor para o escritor é deixar os seus textos sombrios como "alternativos". Trabalhar temas mais gerais e levar em conta as tendências de momentos. É uma das muitos verdades ridículas do mundo.



III - Os corredores sombrios

Nem só de sustos vive a obra de um escritor sombrio. O que é sombrio em uma época pode não ser em alguma outra, a única coisa que une todos os homens é que, invariavelmente, suas sombras estão bem atrás deles. Em todas as épocas existe algum assunto severo e, para o autor sombrio, o assunto severo é o seu deleite. Um dos pontos negativos do terror é também um dos seus pontos positivos: São poucos os concorrentes.

Em algumas épocas são os monstros as criaturas terríveis, em outras os deuses negros e também em outras a própria maldade humana. Em todos essas casos algo está presente: A Sombra.


Em cada caso é afetada de uma forma, embora o eixo seja sempre o mesmo (os rios do Hades).