segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Porrón Borracha


bebe, y se pone borracha
No quiero que sea, encanto.
No quiero el nombre, tormento.

En las calles, me siento tu olor: yo estornudando.
alamedas pobladas, podrido, codiciosos ojos;
per lo pasar otras damas de fuego,
jóvenes desnudas en sus ventanas.

Mira mi tonto, dirige el mundo,
ya la espera de sus absurdos,
pequeña in Madrid:
Confiesa su horror, la sangre;
las tripas, candanga niña -
se jugando arañas.

Sonrisa en medio de la falta de definición
Corazón de porrón en porró,
enfocar la luz, el nivel de ilusión.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O Sentido da Visão


Tenho uma pequena cabana em um circo velho, sujo e quase falido perambulando de subúrbio em subúrbio. Sou conhecido como "Tarkan, o magnífico": é assim que me apresento em todos os lugares, como se em algum lugar eu fosse conhecido como magnífico... "Bem sei dos teus pensamentos! atravesso as entranhas das almas! Descubro segredos e medos. Posso anular demônios, descer deuses, conversar com espíritos": diz minha propaganda.

Eu sou um ilusionista, um ilusionista mais profundo, um paisagista de reações emocionais. Alguns diriam que faço charlatanismo, que vendo esperanças vazias, acontece que dou aquilo que as pessoas esperam receber. Elas esperam receber de Tarkan, o magnífico, o alívio interior; a resposta e a saída. Catarsis, pão, circo, pensamento positivo; a satisfação se basta. Dê um escapismo, uma válvula, um canto de bode para abandonar o Eu e as dívidas, os problemas e as adversidades. Dê um cado de Nada, e o peso do Todo diminui.

Mas estou longe de ser um excêntrico aproveitador, tenho minha ciência. Tenho minha lucidez. Sou como Epicuro, filho rebelde da superstição. Aprendi em velhos livros minha própria retórica. Com meu antecessor, o primeiro Tarkan - meu pai adotivo - aprendi os segredos da empatia. Vi que os homens criam seus demônios e anjos.

Eu, mediante os fatos que relatos, aceitei o niilismo e a negação. Acredito entretanto no poder dos sentidos, em especial no dom da visão. De grandes capacidades óticas são feitos os gênios e os loucos e que dificilmente se diferenciam. Posso contar uma anedota do homem que acolheu um bebê abandonado em uma roça pútrida, eu, e suas desventuras...

Meu antecessor, meu pai, meu professor, retirou a palavra Tarkan de algum dicionário de velhos dialetos nórdicos. Francês de origem e julgando-se "estudioso de Estéticas", jamais relevando nada além. Dizia ter sangue nobre, estudado na Sorbonne, conhecido grupos esotéricos, participado de reuniões da Zos Kia Cultus. Velho sempre. Seus olhos obstunados com princípio de catarata esbugalhavam, balançava os dedos e dizia generalidades logo absorvidas pelas plateias como mensagens íntimas e revelações místicas. Criou todo o personagem que apenas utilizo. Acendia incensos, preparava um ambiente sufocante com perícia visual. Em seus melhores momentos brilhava ofuscante como um quadro de Rubens - pintor que adorava. Lia seus livros góticos e tremia em suas muitas aspirações. Dizia não ter sido compreendido, comentava fatos que se contradiziam e confuso citava pessoas, tinha fé completa em suas visões mesmo estando em um circo e servindo ao delírio ou deboche de gente simples. Um nada o faria mudar, e sua escalada transcendental que o rebaixou de nobre francês a curiosidade circense de subúrbios bem poderia ser o encanto que impões a si.

Tinha visão, meu velho, e foi devorado por ela. Aprendi com ele o ilusionismo, falseabilidade de sensações que seu fervor não aceitaria reconhecer. Mas na loucura dele compreendi uma lucidez desesperançada. Eu o temi em seus devaneios. Não me culpo.

Uma visão mais dada aos detalhes, demorada de foco, abrangente. Uma visão relevadora dos pequenos espasmos do corpo, de suas mínimas reações. Uma visão que interprete com largura e profundidade. É a visão daqueles que sofrem a dor dos miseráveis e que sonham os altos montes. É a visão que transcende ou pensa transcender. É a visão do gênio em seu quarto desbravando silenciosamente os duros segredos de alguma Física e que serão luz em tempos futuros, é a mesma visão de um velho doido e suas magias que morreu em obscuridade.

As pessoas poucas aos poucos entram no terreno do circo. O trapézio surrado recebe aos poucos senhorinhas e seus netos aborrecidos com o lugar. Uma ou outra entra em minha cabana. Revelo pensamentos e pretextos, decifro sonhos e defino futuros.

Casaca azul; rosa vermelha

O calor do vento na varanda, a escuridão rubra que despenca o Sol. Aqui vai tudo como naquele verso, Pagu:

"Quanta luz
agora os olhos doem
o quintal está no mato
e antes haviam flores
"

Pensar na vida, eis o paradoxo do viver consciente. Sentir a vida, tão mar de inumeráveis risos: o carmim do sangue, e o carmim da rosa, vitórias, derrotas. Sentir, sentir o idílio de um fim de tarde amarelado. Lírico, eu não sei, fico aborrecido com fins. Assim os singelos. E penso em nosso silêncio.

Com os braços debruçados, o último cigarro do dia, meus pés dilacerantes agonizando algumas noites não dormidas apropriadamente e péssima alimentação despreocupada. E que seja! Não me pega a melancolia quando não estou disposto, bem sabe. Ando disposto ao silêncio e ao grito, e sempre. Legião toda lá dentro (ainda escuto). Não percebo a letra. A melodia entoa... Tímida. Estou falando muito mais comigo mesmo, acho. Gosto de monologar, é o meu panegírico, Carinho, ou não é? Gostamos de imagens, fazer imagens. Eu sou minha melhor imagem.

Mas sabemos, algo está fora do lugar. As paredes e o declinar das matas, e o Sol tão quente, e a vida que teima e teima. Qualquer lugar. Tudo segue obscuro, e os meus dias são quase noites. Olhe a luz fraca, e que paira; nas fotos do Norte e na esperança do mar, e o porto que singra. Átrio Caiado, que jaz em penumbra, com meu anel e casaca azul como bom nibelungo estremeço nos ossos também em penumbra... Esperanças ausentes, distante Vitória, o consolo em pequenos versos.


Dias vindouros. Tempestade e ímpeto. Do Dom.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Liber Monstrorum - Sereia


Eu sempre acordo assim... Sem rumo. Desesperada. Apressada. Eu nunca encontro nada. Corro pela casa, pegando e jogando coisas. Eu me arrumo, não me arrumo, não me entendo. Visto. Preciso sair...

Meu dia é a noite. Desço ao palco mal iluminado de uma cidadela qualquer. Velhos e plácidos cantarolam, gesticulam e berram. Alguns comentam meu nome, dizem coisas que não fizeram ou não teriam carisma para conseguir. Eu sou itinerante, uma voz para agradar cantando músicas de qualidade duvidosa e alguns poucos clássicos da MPB, de buraco quente em buraco quente. Mas estou cansada.

"Durante muito tempo vaguei esperando algum amanhecer dourado; alguma extraordinária sorte - e que me elevasse. Quando menina, não sonhei com o principe alvo - sonhei por um cavalo branco". Faz parte de uma composição minha... Canto, entre uma canção e outra. Estou cansada. Ficamos, eu e minha banda, Michel, 3 ou 4 meses em uma cidade. Geralmente na Costa. Vamos para São Paulo, e voltamos. Região dos Lagos, Nordeste, Sul, Espírito Santo. As pessoas gostam de música ao vivo por motivos que eu nunca compreendi. Detesto ouvir gente falando enquanto como:

"As pessoas frequentam bares para falar e ouvir falar". Diz Michel.

Michel é um amigo ou um pouco mais. Toca baixo e violão. Não é bom, mas é leal e sincero sem ser rude (tipo difícil). Eu canto e toco violão. Já andei sozinha, em grupos maiores... Mudamos vagarosamente e estou pensando em dar um tempo. Não estou me sentindo bem... E me pergunto qual será a reação de Michel.

Vejo uma pequena multidão em suave embriaguez. Moços e moças, caminham entre as mesas cambaleando, levantam os braços, gritam e gingam, falam, e outros escutam. Alguns balbuciam a música comigo. Alguns, reclamam da minha voz.

Mas canto. E canto.




FOTO: Fascinação da Iara, de Teodoro Braga (1929)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Casaca azul; rosa vermelha

O calor do vento na varanda, a escuridão rubra que despenca o Sol. Aqui vai tudo como naquele verso, Pagu:

"Quanta luz
agora os olhos doem
o quintal está no mato
e antes haviam flores"

Pensar na vida, eis o paradoxo do viver consciente. Sentir a vida, tão mar de inumeráveis risos: o carmim do sangue, e o carmim da rosa, vitórias, derrotas. Sentir, sentir o idílio de um fim de tarde amarelado. Lírico, eu não sei, fico aborrecido com fins. Assim os singelos. E penso em nosso silêncio.

Com os braços debruçados, o último cigarro do dia, meus pés dilacerantes agonizando algumas noites não dormidas apropriadamente e péssima alimentação despreocupada. E que seja! Não me pega a melancolia quando não estou disposto, bem sabe. Ando disposto ao silêncio e ao grito, e sempre. Legião toda lá dentro (ainda escuto). Não percebo a letra. A melodia entoa... Tímida. Estou falando muito mais comigo mesmo, acho. Gosto de monologar, é o meu panegírico, Carinho, ou não é? Gostamos de imagens, fazer imagens. Eu sou minha melhor imagem.

Mas sabemos, algo está fora do lugar. As paredes e o declinar das matas, e o Sol tão quente, e a vida que teima e teima. Qualquer lugar. Tudo segue obscuro, e os meus dias são quase noites. Olhe a luz fraca, e que paira; nas fotos do Norte e na esperança do mar, e o porto que singra. Átrio Caiado, que jaz em penumbra, com meu anel e casaca azul como bom nibelungo estremeço nos ossos também em penumbra... Esperanças ausentes, distante Vitória, o consolo em pequenos versos.


Dias vindouros. Tempestade e ímpeto. Do Dom.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Fábula de digressão - Vida e morte; sonhador.


Abstraía-se nos jardins suspensos da eternidade, alto e largo e imortal, seus olhos viajam pelos mais distantes céus, e suas mãos quietas moviam montes e montanhas, plantações e sementes, o mover da lua e o migrar do Sol. Em jardins suspensos, no perfeito castelo de cristal. Diamantes, adornando o rei final.

Abstraía-se nos altos montes carpados, nos mais pensamentos elevados, nos desafios, na ascensão e na glória - divina glória - memória perpétua de um viver eficiente. Em muralhas e escadas elevadas, de velhos cavaleiros, nos vales de muitas vontades.

Abstraía-se nos múltiplos sentimentos, nos múltiplos momentos, nas variações e nas alterações, nos entremeios de clamores, nos frenesis das feiras humanas, nas exóticas sentenças, nas absurdas clemências, nas conformadas maneiras. Nas aldeias cruzadas pelos rios, pelos tempos, pelos momentos.

Abstraía-se no solo, no cantar de pássaros, no jardim da quietude, no casebre de uma pequena virtude, no contínuo esperar de mais um Sol, e na singeleza de mais uma morte. Perene, regalo, sombra. Deixado um pequeno monturo, adornado com as flores e as pedras dos montes, e feito no trabalho dos homens: um singrado altar pessoal.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Fremente


Fremente as mãos giram corpos,
Ao relento anil - cai noite.
Dois passos atrapalhados
sem freios, selados;
girar, girar,
rodando ao fim do dia,
acolhidos em foz: penumbra.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Meu estudo em francês



Manon Lou, no último olhar - minha vida de tantos sentimentos e jovem belle epoque - da despedida enfim, algo sine qua - Nunca mais. Percorro ruas, horas, nas luzes, ausentes. Perdu. Vago. Encart. Nos boleros de Brel, velhos poetas (nossos), amarguras (nossas), e o sutil délice vagueio. Até portas que me atraem, e suas janelas e moças; beaux seins blancs, avec malice dans ses yeux - Et nous élève! Adentro o perdulário de uma alcova, e migro da carne ao sonho, confesso réu e vil, L'archange tombé e saciado. E a noite morre em mil saveurs. Quelque soit. Novo dia remido e ar fresco.