quarta-feira, 17 de agosto de 2011

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Além da imaginação


FADA

Um bom nome para suas linhas sedutoras. Tinha toda uma maneira de se expressar, e seus grupos, aquele olhar que na foto revelava um olhar sinuoso, cínico – místico; e que na webcam pude compreender: de fato, uma fada... Encontrei-A.

Já fiz muitas coisas, mas foi então bancando o detetive particular que resolvi começar um diário. Um bloco de anotações, um esconderijo para os meus pensamentos. Algo talvez surpreendente para alguém nas minhas condições. Quero dizer; estive nas linhas de frente quando os romanos chegaram a Cartago, fui escravo em Atenas antes de Sócrates nascer, lanceiro de Sargão, o conquistador. Estou rodando por aí há tanto tempo que já nem lembro. Procurei ouro no oeste americano, vendi bebida contrabandeada quando Bogart brilhava no cinema, cheguei ao Brasil com o segundo mandato de Vargas. Fui esfolado, trancafiado, fuzilado, afogado, centenas de vezes. Conheci todos os homens e todas as mulheres, mas agora nos últimos 80 anos dei de investigar e escrever... Ela suspeita?

Nada melhor que um imortal para um serviço de investigação. As pessoas mudam, mudam os nomes, mas as motivações, bem, nem tanto. Já passei pela fase prazeres ao extremo, pensamento ao extremo, desejo de morte... Entrei de cabeça na meia-idade sobrenatural; procrastinação. Meu palpite? Todos os deuses cansaram da humanidade, abriram bares em outras dimensões. Passam o fim de tarde com seus cachimbos admirando o horizonte com três luas ou múltiplos Sóis.

Fugiram sem razão.



Pois bem, o homem me contratou por causa de uma paixão virtual. Violentíssima, disse. Estava desesperado. Encontrei a pessoa nas redes sociais; tomei contatos; pesquisei por seus dados moradia, emprego, gostos, opiniões. Incógnitas. Pois veja: tentou me encantar. Calculo. De outra maneira, não teria comovido meu arcaico coração. Não. A criatura em suas linhas sutis conhece a sedução de longa experiência. Não é um ser humano, é um ente: encantou meu pobre e agora mais pobre cliente, e parece mostrar interesse pelo novo e despretensioso amigo; também tenho meus truques.

2 meses de conversação e confidências. Um encontro marcado. Eu, codinome Andarilho, ela, codinome Fada. Vejamos o que posso descobrir aqui... Minha amiga, Fada.

O bar de esquina está lotado, e lá vem minha amiga com o mesmo olho mítico e encantador – em todos os sentidos da palavra – ao meu encontro. Não, minha querida, hoje seus truques não funcionarão...

Quem será você, Fada?

Nunca foi tão simples ser uma entidade sobrenatural. Alucinações, esquizofrenia. Eu poderia arrancar minha cabeça e jogar futebol com ela que todos os meus vizinhos encontrariam uma boa e racional explicação para o misterioso detetive particular do terceiro piso. 10 anos em uma cidade, 5 em outra, um país, outro. Ninguém nota; mas eu já notei tudo. Deve ter sido por uma linha de pensamento assim que decidi investigar...