quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Reversão Magnética


De sua cadeira leve e pouco empresarial, barba por esbranquiçar, mediando; à grande vidraça. Vale do Silício; os jardins e os parques com suas cadeiras de um novo modelo de empresa muito mais humana, estagiários com liberdade e bicicletas pelo bem do meio ambiente, admirável mundo novo, de tecnologia e espaço, alegria rococó, roupas leves, seguranças barrando carros, letreiros e casas ao estilo georgiano, acessibilidade e ouro de sangue. Ele lembra:

Passou todos os dias de Woodstock enfiado na garagem de sua mãe. Chamado e assumido nerd, iludido, reprimido pela sociedade repressora. Em seus fios condutores, processadores de dados pesados, reclusão voluntária, informações cifradas, conduzidas por pulsos, impulsos, direcionados, convalescentes, imediatas. Na tela de seu computador pessoal, estatísticas de uso, tantos escutando Hendrix, e relembra suas reuniões de estratégias nos bancos e cadeiras dos parques fechados, "propaganda direcionada, atendimento rápido, não seja malvado, não seja ausente, leia os livros, mantenha sua privacidade, descubra a alheia". Milhares e milhares de pessoas enfiadas em seu mundo, seu programa, sua marca, ouvindo Hendrix, o rebelde odiado daqueles tempos, recebendo informações de Hendrix, procurando Hendrix. Hendrix que ele evitou seguir. Hendriz que lhe rende.

Paz e Amor, sua mãe repreendia. O Sonho acabou? Em seu olhar solícito e recluso, o mundo é seu.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Metrificação do tempo

Enquanto Cabral se preparava e o Novo Mundo seguia isolado e velho pronto para ser descoberto, o nascimento de um simples autor como Rabelais é um evento desconhecido até hoje. Ele mesmo não sabia afirmar sua data de nascimento em vida, seu aniversário podemos supor, passava em branco, escrevendo, lendo ou bebendo como em todos os outros dias do ano; ignorante do tempo como a maior parte da população de então. O dia, do nascer do Sol ao seu declínio, interrompido pelas refeições, era um bloco inteiro de luz. Uma estação, outra estação, outra estação, outra estação, a mesma estação. 8 ou 9 gerações, ao preso do industrialismo, a vida determinando-se no balanço do ponteiro e na troca dos números.

Fazemos tudo ao preço de hora. Manhã, tarde, noite, intervalo, serviço, férias, fins de semana, feriados, pontos facultativos. Organizamos nossas ações, vivemos em uma gama de tarefas e abstrações maiores. Somos mais livres? Estamos mais presos?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Procrastinação, abstinência e o monge dominicano


Estou de saco cheio hoje. A motivação de alguns minutos atrás, acabou. Nem vi. Foi parar no fundo do armário, caiu no vão da mesa com a parede, voou pela janela e bateu no vidro de um carro. Algo assim. Estou de saco cheio feito um Papai Noel de pré-vendas natalinas. Tudo em mente, tudo, as personagens acontecimentos dramas suspense clímax e nada, nada; sumiu. Chato isso. As malditas janelas. As nuvens. O quarto escuro. Silêncio. Meu book de textos ruim e o desgraçado de hábito espera meus momentos criativos para dar das suas. Canalha! Logo agora, velhaco? O problema na placa é tão sério que é mais jogo comprar outro. Passa. Backup e tudo mais em CD - aprendi alguma prudência - enquanto o papel em branco, a caneta, e minha mão esquerda insones ignoram meu desassossego.

Quando foi que desaprendi a escrita cursiva?

Imagino aqui algum monge dominicano, com um livro impresso direto da Germânia, olhando entediado os rolos de textos da Diocese pensando consigo: "mas que saco, Virgem Mãe"

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O ambiente virtual (Full)


Manter uma vida virtual ativa não é hoje exclusividade de jovens amantes da computação, mas uma rotina social generalizada. Socializar em redes sociais, marcar encontros casuais ou fazer passeatas pela economia mundial, são atividades comuns. No mínimo, quase todo mundo hoje mantém um e-mail. Há quem trabalhe em casa. Ou, ao chegar do trabalho, relate alguns causos aos amigos no mural do Facebook, acompanhe as últimas notícias não pelo jornal, mas pelo Orkut, ler no Twitter rotineiramente uma frase interessante de alguma celebridade; fazer-se celebridade; assistir filmes, burlar todos os outros meios de vinculação de mídia: em franca decadência financeira. Ter mais conversas com pessoas em outros países do que com seus os vizinhos. A vida virtual, a Internet, ocupa algum lugar social, inegavelmente. A pergunta que fica é: Qual?

É algo pessoal, individual, próprio, um mero escapismo da vida real. Um ponto de vista talvez compartilhado pela maioria. Aliás, um ponto de vista no mínimo superficial. A Internet cria um capital considerável, forma e quebra empresas e fortunas, cria celebridades, motiva namoros e divórcios, manifestações sociais. Revoluções. Sua amplitude é e une todo o mundo em interfaces gráficas, como uma enorme praça pública feita de pura linguagem sem as limitações espaciais: ocasiões; por tempestades derrubando torres, ou acidentes na transmissão de dados, ou ditadores egípcios desastrados. Limites banais, nem mesmo observados pela maioria. Uma praça. Como tal, não se pode definir uma praça pública como ambiente privado por muitos a utilizarem apenas como distração. A movimentação da praça dá lucro, visibilidade, vez por outra, levantes populares. Mas então; fica uma nova pergunta: A Internet é parte do ambiente público?

Uma resposta incompleta. Cada pessoa no ambiente virtual e em especial nas redes sociais adota características que, embora talvez tencionem sinceridade plena com sua “maneira normal de ser”, desnucam-se pela distância, pela ausência de impressões físicas, pelos limites predeterminados no prévio convívio social. Na Internet, qualquer um pode fazer-se como desejar: incorporar um personagem famoso ou não, ser mais ousado com um linguajar voraz, ou, freqüentemente, mais valente. Para a maioria, o salvo-conduto da mera possibilidade de desligamento. Em palavras mais simples; você pode desconectar-se de sua realidade (virtual ao cotidiano/ cotidiano ao virtual).

Não podemos abandonar um dia chato no trabalho desaparecendo no ar, ou na escola, mas a realidade virtual é tênue o suficiente para tal. Além do e-mail, da comunicação, profissional, do entretenimento ininterrupto, a Internet ainda oferece a possibilidade de ser uma nova personalidade. Ela não é feita de acomodações, cortes espaciais, históricos insolúveis das experiências do cotidiano, mas é puro personalismo, propaganda, troca de informação, linguagem. Informação e automação. Não é de surpreender que jogos que imitam a vida comum – o exato tipo de atividades que fazemos sempre – sejam tão populares. É a vida comum, sem as limitações comuns.

Conclusão até agora: Nenhuma. Não que aflija o contínuo debate do tema.

Dizer que a Internet é um ambiente pessoal é superficial, dizer que a Internet é um ambiente público é incompleto. Teríamos uma resposta apropriada? Seria possível deixar em aberto, mas, acredito existir uma resposta estupidamente simples: O ambiente virtual é um ambiente novo.

O bom Aristóteles que definiu boa parte de nossas noções ordinárias sobre cidadania, não dispunha de Google.

A Internet é um meio social novo e crescente. Apresenta em si todo um ambiente social com elementos dos dois clássicos – público e privado – além de alguns próprios. Uma casa tem seu limite na intimidade familiar ou no espaço físico da residência, o público é ilimitado, porém recuado e propagado por meios de disseminação. A Internet apresenta uma mesma ausência de limites, e bem maior, porém amalgamada à individualidade; tênue; de cada personificação. Cada usuário, no mar de linguagem supostamente perene e interminável, em um barco mutável por suas interações, escolhas e afeições. Um país continental cortado por trailers, um condomínio sem ruas, de residências flutuantes, no qual pombos correios migram de casa em casa entregando mensagens. Tênue, e em sua maior qualidade (como é comum), seu maior dilema: Não existem calçadas no condomínio, os trailers não têm portas. O juízo das coisas não ultrapassa a mera troca de informações, sem as impressões físicas, os pequenos hábitos não verbalizados... Ela é um novo corte social, como novos problemas de ordem social... Entretanto, paro aqui, assunto para um outro artigo.

domingo, 6 de novembro de 2011

Velhos Hábitos

Certo, tenho meus momentos anacrônicos.

Telefones desconhecidos, amigos perdidos, laços rompidos e amores nascidos, nas eletrônicas filas da agenda celular. Cigarro na boca que digo tantas vezes querer abandonar, o mesmo banco, a mesma praça, aquela pessoa. Enfim. Vinte minutos e contando para o reencontro.

É engraçado.

Em algum momento da vida, acontece com qualquer um. Um momento, um só, um acontecimento coloca toda a nossa estrutura em abalo. Um olhar, uma frase, uma conversa, uma visão. Nossas bases se alteram, por instantes, misto de liberdade e desespero, desejo e aversão, certo e errado bailando, e é lambada... Mas você já ouviu falar disso. Quem não? Acontece que aos loucos ocorrem ocasiões assim. Também. O cinismo se retrai, a completa liberdade parece pesar, a ausência de culpa, culpa, e mesmo a onipotência seria inerte. Uma impossibilidade, uma impossibilidade de ser algo que está além de suas amplitudes pessoais. Algo que exigiria uma vida de compromissos, os compromissos que você sempre evitou. Então, os surtos. As loucuras das quais não se orgulha.


Cantar em janelas, mandar sinais de fogo... Sinais de fax, pentelhar a rede social. Ou ligar e marcar um encontro naquele lugar. Não receber resposta e esperar, mesmo assim. Olhar como um bobo a rua, fumando e pensando que precisa parar, aos vinte minutos de atraso.

Não é a primeira vez.