terça-feira, 19 de julho de 2011

'l´autre roi'


"Está sério"

Estou, dizem. E é verdade, pois eu joguei e perdi. Pior, não joguei. Simplesmente não joguei. Outros cantam e bebem, comentam, comentam coisas que eu mesmo fiz; coisas que eu mesmo não fiz; estou no centro das rodas, no assunto das conversas, nos ares das tabernas, e salões. Estou no centro, no tema, no âmago, e não me sinto abastado?

"Mais uma, mais uma"

Digo uma frase sobre um alguém do momento. Aprovam em aplausos e risos. Quase sempre aprovam. Entendem? Concordam? Difícil saber, a única escuridão em suas vidas que meus olhos de gato não penetram. Eu sou um prazer íntimo como um bordel. Tenho o gosto proibido das meretrizes com as quais aliás tenho excelente convivência. Mas eu não apareço em suas formalidades. Ali, um pajem que odeia seus senhores, ao seu lado um senhor que odeiam seus pajens, vejo uma senhora honradíssima, vejo uma dissimulada fria, vejo um que é casto, vejo outro que é depravado. Ando entre todos. Vejo o que existe de vivo em cada um. Mas eu? Mas eu? Eu sou só, ou único, e estrangeiro confesso.

"Cabeça distante, só pode estar maquinando outra..."

Eu sou algo que já não controlo. Sou qualquer coisa além, em seus olhos ávidos, seus espantos, seus rostos de deslumbramento. Devo dizer que tenho meus medos? Devo confessar que tenho momentos de cansaço, tolice, carinho? Não hoje. Pago meu preço. Quebro minh'alma toda vez que transbordo os sentimentos do meu ofuscado interior pacato, impossível e limitado. Momentos passageiros. Eles querem a dança; diabos, eu sei dançar. Vamos dançar? Eu pergunto e respondo; sim, vou. O choro interior e o olhar triste na madrugada fria, e o leve sorriso que diz - "hoje não, Queda, hoje não". E brado, como sempre brado...

"- Sabem da última..."


Amar quem nos ama. Valer nosso jardim. Nossa vida.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Por quem os sinos dobram...


Por quem os sinos dobram? Pelos mortos. Melhor é continuar velando, má fortuna ser velado. Brinquei com um talento demasiado melancólico, repleto de saudáveis utopias.

Duas coisas podem ser ditas sobre; ou melhor, três coisas podem ser ditas sobre o crepúsculo de uma tarde quente: algo começou, algo terminou, algo deseja recomeçar. Os pequenos corpos jovens correm; lentamente; aos portões do prédio. Professores acompanham os alunos menores. Pais esperam ansiosos. O Sol vai, os pássaros passam, as nuvens, as sombras nos corredores que reencontram o silêncio. Vai o mundo todo enquanto da janela do terceiro andar eu o acompanho com olhar e pensamento. E eu digo os três: começo, termino, e desejo recomeçar.

É sentir assim, como quem percorreu todo o mundo para lembrar que seus óculos estão no bolso de trás. Ou rodar, rodar, girar, abrir os olhos e procurar tonto os rastros das outras crianças, antes que o equilíbrio nos lembre a certeza e a rapidez. É encontrar seu lugar em seu lugar. É pensar: eu fui e cá estou.

Tantos rostos de sonhos que eu conheço, reconheço. Vidas que só conhecem a primeira resposta: começar, começar, começar. Ser o jovem tio que ensina História, e conta histórias; ser parte de vidas que podem ir, voar, alcançar estrelas...

Ou voltar.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Expurgo


Existe aquele momento na vida. Crucial. Um "sim" ou um "não", uma cordialidade ou um ato impulsivo, uma pessoa ou um lugar. Você pode deixar a ocasião passar, não a lembrança.

Todos os rostos reservavam um silêncio acusador. "Ele aqui". Nos gestos retraídos, no falar constrangido. Eu era um estranho, um estrangeiro, um outro. Duvidavam de minha presença, eu duvidei, todos nós. Eu me perguntei o motivo de estar ali. Ainda me pergunto. Tinha abandonado um sacerdócio e um sentimento por motivos que não enxergo agora. Sou alguma coisa que saiu, rebelou-se, e volta então de qualquer lugar. Algum despojado ainda toma coragem para fazer perguntas; respondo de pronto; esperava mais. Tenho pouco a dizer, a liberdade é uma escolha e não uma resposta. Não existem respostas. Eu caminhei demais para compreender. Lamento; não, não lamento, mas aquele olhar negro que lutou por uma fé inexistente, sonhou sonhos que eu não poderia viver, ele sim toca profundo.

Entre nós o rosto lívido de um velho amigo. Morto. O amigo que acatou tudo, e deu o consolo para aquele ombro, e aquele olhar que me acompanhou ir embora; chorando. Minha morte simbólica em sua alma sensível, outra morte, física. Má fortuna para alguém assim. Nós nos contemplamos, mas sabemos em nosso silêncio: "Jamais".

O mundo é injusto.

domingo, 3 de julho de 2011

Recados íntimos



Deixado escrito em um bilhete no cobertor...


Quando o sentimento cresce de uma brincadeira, leviandade, para algo maior e que nos toma em despreparo. Esquecimento de si que é o amar, também temer e esperar. É o que vejo em seus olhos; reflexo do sentir gozo fresco e morno derramado em seu corpo, contato de alma e carne, dois, um. E não precisa fazer sentido. Nem se precisa entender. Mas sou como sou, carinho, e planto minhas flores no quintal. Um nome floral e boas recordações é o que posso oferecer, é o que tens. Certo gesto de acolhimento que por vezes faz tudo valer. Vigor e claridade na noite, seja calendário ou vida, e é o que tenho dado.

Nós nos redimimos, feitos mimos.

Até a noite.
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