domingo, 19 de junho de 2011

Inumano e Natural


Clama um sedutor deus mau -

"Não se cria um mundo sem destruir um outro". Perfurar-se em lâminas,
expurgar do sangue novo. Desfalecer para então...
Derramar gotas em solo. Hostil.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Perséfone


Mero. Um poço obscuro feito de grandes colunas, imensos oráculos, nos becos. Armações, de material frágil, e precipitações hostis, um largo charco no qual, intacto, não me despi. Enquanto hordas de pensamentos inditos cruzavam o vão. Enquanto subia a escadaria – por seus brutais raios de lucidez – Deixando o fim de todo o abismo. Emergindo: abandonando um quarto mal iluminado pela claridade e a vida da noite.

Vultos, vultos, translúcidos rumores, cores, formas, tênues.

O grande salão, enfim os rostos conhecidos. Amigos. Conhecidos de amigos. Olhares. E não esperando nada além de passageiros momentos e interlúdio; sem prever o feito de um silêncio submergido nas muitas vozes. Silêncio de um rosto singelo, e querido; olhar perdido, lábios úmidos, jeito de um desejo de outros ambientes, mais altas sensações, prazeres distantes; e eu sei; vi meus desejos em seus desejos. A presença de uma desconhecida deidade, no mais comum dos lugares. A presença de uma viva luz, viva, luz, destruindo displicente a minha maré escusa, misérias. Presença do céu, melhor, presença de um céu.

E o seu olhar retorna; para finalmente convidar. Fim e início de noite; fim de escuridão, e alvorecer.

Em seus braços alvos, desmanchavam o vestido, revelando sua beleza nu. Seu corpo alvo apetitoso. Seus olhares de quereres e malícia. E a subtilidade de uma timidez; mas tão repleta de vontade... Seu colo; seus gestos; suas pernas macias, suas curvas; recôncavos perfeitos; para o passeio de minhas pesadas mãos. Ávidas. Ávidos. No abraço intenso, a sincronia muda da alcova. Dos pensamentos suspensos, e das emoções reveladas, os suspiros, gemidos, a doce aflição. E em um único momento; tudo. Segundos, instantes, horas. Tempo; e ele vale pouco assim...

Amanhecer. Despertar para o dia, com os ventos, e a relva. Uma cama, uma conversa, palavras honestas. E deixando sua casa, o mundo é mais belo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

João Pestana


Taciturno e sorrateiro, noturno.
Face oculta, sutil, leve como brisa, caminha pela penumbra.
Você não vê, sente, não sente, adentra, por devaneios, intensos, obscuros passos, sentinela dos prostrados.
Dos olhos negros, profundos, intensos, do todo e por cantos. Areia cai.
Contempla almas, latentes, contemplador no escuro... Você também pode vê-las... Veja.

Da janela adereçada, observa leviano o repousar da jovem.
Moça meiga, delicada, pode vê-la? Vê a pureza?
Não, olhos maus, você precisa contemplar... Não veja, contemple... Por sensações, novo viandante, adentre.
Agora, como antes, a jovem repousa. Não está tranqüila, está ansiosa, nervosa, indecorosa... Assanhada. Assanhada, nova peregrina, a jovem pensa nos olhos firmes, no delinear de corpos masculinos vultosos. Suspiros. A jovem sente a pele arder, o calor vem de dentro, sabemos bem, no pensamento ela saboreia lascívia. Sem regras. Nos sonhos, longe das normas, ela não é vulgar, não quebra voto, apenas... Calor... Apenas o calor, o prazer, sensações... As mãos em movimento, os lábios, frenesi, um arrepio percorre o corpo. Ela acorda.

Face oculta, sutil, leve como brisa, caminha pela penumbra.
No quarto escuro, barroco, o ancião adormece. É educado, gentil com as crianças, honesto... Verdade? Mentira.
O ancião não dorme em paz. O ancião pensa nos rostos, nas ações, ele conhece o próprio passado e sente a imundícia da vida. Inoculo por sensações. O ancião pensa nas mortes, nos gritos, no pavor... Eram jovens, somente jovens... Cumprir o dever, ele cumpriu o dever. Homem da Lei. Agora, como paga, uivo dos mortos. Escravos do medo, vítreos e brilhantes olhos na escuridão. Amanhã, um ato nobre, um belo presente para o neto... Sorriso mordaz, olhar nefando, ele segue...

Face oculta, sutil, leve como brisa, caminha pela penumbra.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

haicais ébrios


____

Olhamo-nos sim,
vi teus olhos negros,
só ver; só vê-los

É minha bela,
sim, minha, apenas -
ah, quando teu?

Intensificados
sussurros e gemidos
sensualmente
____

É; faca na mão
e cortando a pele
pescoço sangra

Sátiros dançam
bailam nuas musas, alegram-se
lá: Arcádia.
___

Vem vento fraco
vento intermitente
vem vento forte

Sombras no quarto
penumbras em vanguarda
Luzes acabam

Perenemente,
constantemente fluir
e continuar
___

Sementes nascem
e aqui folhas crescem
acolá plantas morrem

Como agora
feito como antes
repetindo-se

Sobre a relva
orvalho, cristalina
verde límpido

Nasceram ontem
Hoje movidos estão
Amanhã, morrerão
___

Lá vai meu gato
e eu fico parado
leso da eira

Hoje tem frango
será frango assado
amanhã também

Saudações
gestos e comprimentos
sorrisos iguais

Um curto pensar;
pequenos pensamentos
; grandes saberes

Começa, após
ou o término em si
sem depois

E o padeiro morreu...

O padeiro morreu. E daí?
É o assunto do momento, a morte do padeiro, só falam nele agora.
A morte do padeiro pra cá e a morte do padeiro pra lá
Eu sou o único que não vê grandes coisas no acontecimento?
Eu quero mais é que o padeiro se dane!
Pão ruim daquele, só era bom mesmo pro capeta amassar.
Deve ta lá no inferno, fazendo pão pro cão... Padeiro do pão ruim
Só porque ele morreu o povo usa o fato pra passar o tempo, bando de vagabundos!
Eu sou sujeito trabalhador, vá falar de morte de padeiro lá pra tua nega!
Comenta como se fosse surpresa, qual surpresa? Um cidadão de 96 anos de idade
Ninguém tem data pra morrer, eu sei, mas ele andava mal há um bom tempo.
Pão ruim pra caramba
E eu prefiro nem pensar no pão doce...
Agora que o cara morre esse papo furado, papo furado mesmo.
Digo e repito antes de dizer novamente, eu não vou ao enterro, não vou.
Vou fazer o que no enterro do padeiro? Desejar boa viagem?
Ta lá no purgatório aprendendo a fazer pão!
Deixa-me acalmar, não entenda mal, eu não tenho nada contra padeiro nenhum no mundo.
Sou contra apenas, e tão somente apenas, o abuso em disseminar o ócio, a inutilidade e a profanação da memória de um idoso por pessoas sem louças pra lavar.
O padeiro vai lançar raios nas cabeças deles!
Se existe alguma coisa a discutir, e este é um tema que preocupa minha mente trabalhadora desde o fato, é decidir onde compraremos pão agora.