sábado, 1 de maio de 2010

O público equivale ao autor. É como vejo. Minha arte é fundamentalmente intelectual. Um transgredir consciente do ético em um mergulho estético; um traçar surrealista. O Belo está justamente na ironia de uma atitude ética, uma atitude filosófica, em contradição com um expressar estético que já não pode compreender seus próprios limites; a pura subjetividade não entendida sem o nome de "artístico".

Já que meus desafetos, sensualistas médios em sua maioria e que pouco transparecem algo de individualmente notável (falo não apenas daqui), não gostam de minhas citações, então farei citações: minha literatura apresenta algo simpático ao spinozismo. Digo em tom de provada ironia e respeito. Spinoza foi de um modo bastante particular um filósofo "apenas" lido por filósofos. Vivendo modestamente, longe dos grandes públicos, tratando de seus assuntos com independência. Uma espécie de eremita; eu gosto de eremitas. Posso até mudar de sorte com o tempo, mas o tom restrito de minhas composições é perene.

Também, é da própria natureza do escritor-filósofo refletir no mesmo espelho imagens diversas, mas de um mesmo objeto. Dostoievski foi o próprio problema da existência de Deus. Toda obra do russo notável nota essa angústia e essa necessidade de superação da angústia. É o desequilíbrio entre a necessidade de responder e a impossível de resposta a chama sagrada por trás dos artistas do pensamento.

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