domingo, 3 de abril de 2011

El Chugo


Guardo uma carta de rei de paus na carteira. O Lavrador. Costume, não superstição.

Meio maço de dunhill de velhos cigarros que não fumo e não jogo fora no bolso. Despojado e aguardando no balcão. Foi um dia quente e úmido dos piores - digo ao balconista - Espero meu camarada PV. Impossível não reconhecê-lo com seus ares apressados, corpo pequeno e compacto, parrudo até, tipo que engana pela aparência: professor de karatê kumite e determinado feito animal rapace. Fiquei surpreendido com a ligação, tudo que eu não esperava era um distante conhecido dos tempos de jogos e faculdade procurando os velhos amigos. Não sei se a sensação foi boa ou ruim; com certeza, bem diferente. Não sei se estou melhor, ou pior; com certeza, diferente.

Conheci a criatura passando da Cidade de Deus para a Cidade dos Homens, por assim dizer: bebemos Babilônia até vomitar repetidas vezes em vômito seco. Diferente é pouco. Eu sou outra criatura. Estou mesmo parando de fumar, assim como praticamente não bebo; mantendo minha independência e sobriedade, à regra. Continuo gostando bem mais de andar pelas ruas, no oposto de ficar sentado em um bar afundado. Restaurantes, nem me fale, não era a nossa. O lugar é bem o tom da turma de outros tempos, discreto e casual. Toca "Bring on the night". Donos de bar com bons ouvidos! Ele ainda escuta P.O.D. e Run DMC, música latina? Novos sons ou clássicos? O tempo é também rapace.

Meu amigo chega um pouco atrasado como é hábito [Pontual, só conheço eu mesmo]. E em segundos estamos voltamos ao clima - Noite agitada, hein? - diz sem as formalidades de apresentação - El Chugo! - meu adágio da época (significa tanto apelido mariachi quanto lealdade em "japonês").

Mostro o rei de paus, irônico, e vamos ao debalde... Nós somos mais rapaces que o Tempo.

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