segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Isaías

Que me interessa a quantidade dos seus sacrifícios? - diz Javé. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos. Não gosto do sangue de bois, carneiros e cabritos.

Oculto, nos sulcos de entranhas.
Oculto, das áridas almas.
Oculto, nas sombras, das noites, abismos,
rochedos. E velo, das trevas, contigo.

Na desolação anelo ao Firmamento.
Nas fúrias, devastação, e nas eras, e punição.
Exaladas pestes aos ventos, por arautos negros contentos
e nos desesperos principados;

"A terra vai secando e murchando,
o mundo inteiro vai se acabando,
os céus e a terra vão se desfazendo".

Pois minha mão esquerda resguarda teu mal,
ser, meramente animal,
de desvio e erro vão.
Danados, iníquos, perversos. Agir carnal.
Maus, servos do Mal, escravos do tempo, estar bestial.

Sou a Justiça e o fim de todas as verdades,
Sou o Início e o intermédio dos medos.
Sou o Fogo Consumidor, e sou contigo.

Sangue, desejo teu sangue.
Puro, deleito minha sede em sacrifício.
Impuro, nego teus martírios, profeta, enquanto suplicas:

"Faca, suor, caimbro em depredação e morte.
Pedra de toque e altar, para experção de angústia;
miúda, contrita. Canalha, maldita.
Meu passar só, lento e lívido,
entre essa gente desgraçada, lugar desgraçado;
lagar, de pobres vinhos".

Teu espírito alerta,
e na desgraça clama.
"Não mais estou, com Ele".
E de seu interior, escuro imundo,
escutas tua voz, imunda soturna:

"Sou o demônio, e a própria sombra de demônio,
O Inferno, e o ódio do Inferno.
Ódio, imenso, perpétuo.
Sou tua Sombra, tua carne, tua vida;
sou tua mentira, tua fraqueza, ferida,
sou tua falta de fé,
em mim, não em ti,
e Pecado".

O empobrecido, que não pode oferecer tanto, escolhe madeira que não se apodrece; artífice sábio busca, para gravar uma imagem que não se pode mover

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