terça-feira, 30 de outubro de 2012

Fantasia e fuligens - II



O caso é que eu sou um detetive. Quase dedetizador em um sentido mais exato. Lido com um dos problemas metropolitanos menos convidativos ao debate público: mistificação ilegal.

As cidades crescem. Velhas florestas morrem. Locais sagrados, seres protetores, ritos: a civilização tudo traga. E quando em vez algo regurgita.

Um espírito de riacho louvado por nativos em dado ponto é cercado por muros. Asfalto. E seu rio é drenado. Os sacrifícios deixam de vir.  Ele se transforma. Degenera. O menino-do-pé, ou a moça-de-rio, tomados em barro, gasolina, óleo, produtos tóxicos pelo esgoto. É alterado em elementos porosos, rudes, escuros. Aquele ente simpático vira um monstro espectral causador de distúrbios. Existem muitos por aí. Esgoto, Urbanismo, Infestação... Quase todos conhecem meu rosto.

Veja bem: eles não morrem, são retraídos.

Caras como eu ganham 3 míseros salários mínimos pra isso. Um carro de patrulha, poucos e gastos equipamentos de caça espiritual. E o porquê de aturar um serviço louco desses? É complicado responder.