sexta-feira, 4 de março de 2011

Curto Réquiem

"contra a dureza da vida
tão frágil planta
diante dos que acompanham
as águas fortes e correntes

..."



Na ocasião da morte de meu avô, caminhei com meu pai pelas alamedas do cemitério urbano. Pedras e mármores, as plantas e o Sol fraco no céu. Início de Outono. Lembro reparar em uma velha lápide com alguns rostos orientais; pensar nas muitas gerações asiáticas no início dos tempos migrando migrando ao Leste, pensar nos seus primeiros ancestrais de cultura tipicamente nipônica, pensar nas mulheres, nos possíveis samurais e camponeses, nobres e senhores de feudo. E ali estavam. Talvez, vivendo como memória e sangue em descendentes aqui no mais extremo e distante Oeste por quaisquer ruas e modos, ou corrente findada no mesmo extremo e inimaginável Oeste de seus primevos.

Quando começa ou quando termina. A linha do susto ao último descanso. O tempo tão curto na alegria e longo no entristecer. O sentir, ver, em um inumerável de sensações, no infinito da possibilidade. Vez por outra as engrenagens das coisas acertam nossa subjetividade com mais violência. Do espanto, nasce tudo. Grandes e pequenos fenômenos... Na perda, sentimos o peso do mundo.

Estávamos concentrados. Não seria do agrado de meu avô a vigília dolorida, o sofrimento velado. Ninguém ali poderia compreender o enganoso abandono, mas tão somente nós; eu, meu pai, meu avô. Caminhamos, conversando, e voltando depois para os procedimentos formais.

Não seria outro seu feitio. Tinha cá, no sangue e na memória, enormidade de sua personalidade. Em um olhar, em uma maneira, em um jeito de entender. As pessoas não partem e levam algo de nós /Deixam. Uma pequena esperança que evapora, ou a comoção de muitos e muitos momentos; tudo deixa e vai, passa, marca, e vai. Garimpamos nossa vida, pendemos para um lado, lançamos e tomamos fora.

Da túmula japonesa, não esqueci. Da tarde, do caminhar. Do meu avô absoluto em sua cadeira. Vai tudo conosco. A doença, os conflitos... Sombras e penumbras daquela tarde nublada, e nada mais.



"...
ah, lançam suas flores
no vazio do vento
e desperdiçam energia
que não é delas
e sim das árvores velhas
".

De - Para - Larissa Marques,
(de) floras,
Tão perdida a batalha do vivo.

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