segunda-feira, 28 de março de 2011

Nas casas de banho

Ficava ali o andarilho, com o corpo em água quente. Falava só quando requisitado. Cordato, olhar um tanto bronco. Mancava ligeiramente, usando farfalhos. Dizia sofrer dos joelhos e tinha certa eloquência no modo de responder perguntas; rápido e preciso sem espaço de adendos. Mesclava o irritável e o cordial. Ora, sossegado na água quente parecia relaxar. Vivia no pão e água, seu passado é um mistério, nada dizendo de si diretamente. Típico.

Vez por outra recebemos andarilhos; e é sempre um causo inexplicável: sem qualquer justificativa o sujeito corriqueiro de trabalho e compromissos, de uma terra para se dizer algo de algo, de um casarão, um barraco, cidade ou campo, por um nada largando tudo vivendo na liberdade dura da peregrinagem vadia. Nunca ladrão, roubando vez por outra; não duvido que talvez tenha matado alguém. Vive-se assim como os animais; a Natureza é ríspida, ou não é? É bom ficar de olho em andarilhos, mesmo em uma pousada litorânea como a minha. A maresia amolece, não aniquila a brutalidade. O andarilho dura alguns dias, meses, e pelo inexplicável de sua existência passa fora...

Vindo de sabe Deus onde, indo pra nem ele sabe...

2 comentários:

ANTONIO CARLOS GOMES PINTO disse...

Gostei de sua narrativa, um pouco menos do "julgamento final" ,talvez, bobagem... gostei e pronto.
Andarílhos podem inspirar várias aventuras, eles são elas em pessoa rs...Lembrei de 1 q passava por minha rua e obedecia um rigoroso ritual : ajoelhava-se e tomava da água de um córrego (esgoto)...rsrsr,,,talvez seja um personagem mitológico, talvez esteja vivo até hoje...sei q muita gente morreu antes dele rsrsr...abs

Jarbas Siebiger disse...

não fossem os grilhões sedentários, por certo andarilharia

e roubaria livros

teu texto possui uma ferocida urbana bem domada