sexta-feira, 17 de junho de 2011

Perséfone


Mero. Um poço obscuro feito de grandes colunas, imensos oráculos, nos becos. Armações, de material frágil, e precipitações hostis, um largo charco no qual, intacto, não me despi. Enquanto hordas de pensamentos inditos cruzavam o vão. Enquanto subia a escadaria – por seus brutais raios de lucidez – Deixando o fim de todo o abismo. Emergindo: abandonando um quarto mal iluminado pela claridade e a vida da noite.

Vultos, vultos, translúcidos rumores, cores, formas, tênues.

O grande salão, enfim os rostos conhecidos. Amigos. Conhecidos de amigos. Olhares. E não esperando nada além de passageiros momentos e interlúdio; sem prever o feito de um silêncio submergido nas muitas vozes. Silêncio de um rosto singelo, e querido; olhar perdido, lábios úmidos, jeito de um desejo de outros ambientes, mais altas sensações, prazeres distantes; e eu sei; vi meus desejos em seus desejos. A presença de uma desconhecida deidade, no mais comum dos lugares. A presença de uma viva luz, viva, luz, destruindo displicente a minha maré escusa, misérias. Presença do céu, melhor, presença de um céu.

E o seu olhar retorna; para finalmente convidar. Fim e início de noite; fim de escuridão, e alvorecer.

Em seus braços alvos, desmanchavam o vestido, revelando sua beleza nu. Seu corpo alvo apetitoso. Seus olhares de quereres e malícia. E a subtilidade de uma timidez; mas tão repleta de vontade... Seu colo; seus gestos; suas pernas macias, suas curvas; recôncavos perfeitos; para o passeio de minhas pesadas mãos. Ávidas. Ávidos. No abraço intenso, a sincronia muda da alcova. Dos pensamentos suspensos, e das emoções reveladas, os suspiros, gemidos, a doce aflição. E em um único momento; tudo. Segundos, instantes, horas. Tempo; e ele vale pouco assim...

Amanhecer. Despertar para o dia, com os ventos, e a relva. Uma cama, uma conversa, palavras honestas. E deixando sua casa, o mundo é mais belo.

Um comentário:

Unknown disse...

Achei adorável, Ramon. Gostei muítíssimo. Sabe quando alguém escreve o que vc mesmo gostaria de escrever? Talvez vc tenha dito hoje algo que pensei e não soube transcrever.