terça-feira, 30 de novembro de 2010

Eu te quero às dez da manhã


Eu te quero às dez da manhã, a às onze, e ao meio do dia. Querer-te com toda minh'alma e com todo o meu corpo, por vezes mesmo, nas tardes de chuva. Mas pelas duas da tarde, ou, três, quando me ponho a pensar em nós dois, e pensas na comida e no trabalho diário ou no prazer que não tens com isso; te odeio silenciosamente, com a metade do ódio que tenho por mim.

E assim, logo volto a desejá-la, quando nos deitamos e sinto o que me faz, em algo que me diga em teus joelhos, ventre, enquanto minhas mãos me convencem que não há outro lugar, que tenha vindo, que vá, melhor do que o teu corpo. Vens inteira ao meu encontro, ambos desaparecemos por mero instante, adentramos a boca de Deus, antes que eu diga ter fome ou sono.

Todo dia te amando odiando, irremediavelmente. E há dias também, há horas, em que és-me estranha como mulher de outro. Homens me preocupam, me preocupo comigo, e meus pesares me distraem. É provável que não penseis em ti por muito tempo. Agora, veja: Quem poderia te amar menos, meu amor?



(Jaime Sabines. Adapt. Dom Ramon)

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