quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Haliêutica


Nada como o silêncio no mar. Mais puro e completo dentre os silêncios, livre até dos pensamentos. O singelo balançar das ondas, ao sopro dos ventos, fracos, céu azul sem nuvens, Sol forte refletindo nas pequenas ondas.

Pescar exige paciência. O lado mecânico é básico, poucos movimentos, equipamentos mínimos; a experiência torna tudo tato. A mágica da pescaria, de uma boa pescaria, é bem a união da paciência ao mais cordado manejo de atitudes. Ligeiro, firme no momento certo, sutil sempre. Sutil como as brisas.

Uma vara flexível, uma boa carretilha, a linha, o anzol, as iscas. Seguir com o barco até a altura certa, tomar tudo da maleta e aprontar. Pode-se aproveitar bem um dia inteiro com bom clima saindo cedo. Eu prefiro muito o clima da manhã, sair lá pelas 4 para fisgar os peixes já nas 7 ou 8 da manhã. Horário bom, quieto, sem muito calor, claro.

Eu; o pescador ao peixe é o terrível acaso, funesto ranço da morte transfigurado em doce e fácil deleitar - ri-se - E não é algo de lírico? Uma forma mais branda de caça, e ainda assim, uma caça. O coitado peixe confiante contra uma refeição fácil, feito refeição fácil. É força atracada em força, o golpe, que faz do atroz seu algoz. É o curso das coisas. É a moral por detrás das imaginações, e a brutalidade do mundo em si. E carne branca, fresca e deliciosa, por conseguinte.

Mas, o pescar é brandura. O vento, e a calma, e a espera. Mesmo quando não se toma o peixe, horas de pura ação purificam já o espírito tão farto de dias, afazeres, e pesares. Livre. Pleno e livre em seu silêncio. Não, o peixe é só uma parte, há todo um resto. O mar obedece o tempo, e o peixe, o instinto, mas o pequeno homem aqui, em mar, é um com o resto. Fluindo, assoprando, nadando, firme e reflível, em consonante.

E o peixe infeliz cai, na manhosa armadilha. Força em riste, dobra e puxa; deixe que nade ermo, e puxe mais; domine o Leviatã pela fineza da linha. Dobre, agarre nas pontas dos dedos, e no punho, e no mover magistral:

Salta, resplandece no céu, cobre o Sol, e orgulhoso desce. É o apogeu, batalhador, é bem o nosso apogeu. Sal, mar, homem e peixe; torpor.

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