terça-feira, 6 de abril de 2010

Montanhas

Toda a vida gostei de arte. Arte. Toda a vida tive esse negócio na mais alta conta, nunca cansei, nunca desisti. Já cansei de tuda na vida, até da vida, mas da arte não.

Exemplificando, quando criança meu sonho era ser desenhista. Desenhar, desenhar era aquilo que eu mais gostava de fazer, e, para sincero constrangimento, desenhava mal. Na fisionomia, era o oposto do talento, tudo era admiravelmente inumano. Apelar ao geometrismo então era pouco, de qualquer modo, mesmo na base dos palitos, tudo continuava insatisfatório. Grande demais, pequeno de menos. Fui nessa batida, desenhando de terceira, até a adolescência e minha aventura na música: Um fracasso ditirâmbico.

Se no traço puro era um coitado, na imitação era um coitado menor. Olhar para uma imagem e representá-la, taí uma coisa que prendia minha atenção (difícil). Na sala ninguém copiava tão bem uma bananeira quanto eu; se tinha uma bananeira pra desenhar em qualquer coisa, a minha era a menos ruim. Lembro-me com clareza, certa feita na aula de educação artística copiei um jardim magnificamente. A cerca, o gramado, o telhado, os detalhes da casa em um estilo, sei lá, rococó, tudo muito chamoso. Guardei o desenho, perdi tempos depois... E pensando assim resolvi algum tempo atrás retomar a arte de desenhar. Voltar ao primeiro amor.

Meus desenhos estão melhores hoje. Pelo menos, em um aspecto: Grandes Horizontes. Ravinas, montes, céus, desertos, grandes jardins, locais abertos. Já gostava antes, mas agora a coisa passa melhor, até de traço puro mesmo. Copiando então... Dia desses copiei uma imagem dessas de marca de cigarro: Divino! Meu melhor desenho, acho.

E de tudo isso, o meu traçar favorito é a montanha. Realmente, não tem nada na natureza que me chame tanta atenção quanto uma honorável montanha - Tudo bem, eu poderia citar a beleza das nebulosas, mas nem fudendo eu seria capaz de desenhar uma nebulosa. Uma montanha exala um ar de autoridade, de poder... De Imortalidade. Ninguém jamais viu uma montanha surgir ou desaparecer, elas simplesmente estão lá. Representar esse poder no desenho, taí também uma coisa que eu gosto, e não apenas no desenho, mas na palavra.

Não sei dizer se gostaria mais de desenhar uma imagem perfeita de Outono, algo como um conjunto de árvores, cálidas, em um tempo ameno, ou se gostaria mais de representar uma montanha, mas transpassando o poder honorável e imortal da montanha. Um Fuji em todo o seu esplendor, por exemplo, ou mesmo nosso interessantíssimo 'Dedo de Deus'.

Vou pensando assim, enquanto desenho minhas bananeiras perfeitas.

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