terça-feira, 13 de abril de 2010

Van Gogh

Hoje estou um tanto perturbado. Sinto uma dor estranha, suave, no abdômen. Uma pressão no coração, como se diz...

Estou cansado. Fatigado. Meus músculos amolecidos vacilam meus ombros, minha visão é turva, resisto ao toque do ar com rispidez. Existe qualquer coisa aí de infame... Imundo. Eu estou sujo. Estou literalmente sujo... E por dentro também.

Acho que estou ficando doente.

A pressão no coração só faz aumentar. Assusta, realmente. De repente a palavra ‘morte’ aparece e reaparece, na minha mente. Vou cair e morrer. Vou morrer mesmo, sinto. Sinto, assim, como se o mundo estivesse se fechando ao meu redor, como se o mundo fosse a tumba, fechando, e então eu bato e bato. Ela não abre e eu morro sufocado lá dentro. Fico berrando, o ar acaba, me bato todo na madeira debilmente e inutilmente. O frio. O frio cresce e então eu sei; morto; consciente o bastante para perceber o frio do meu corpo, consciente o bastante para experimentar gradativamente o apodrecimento da minha carne, o desfazer de minhas entranhas e a minha pele murcha...

E essas imagens me aliviam. Minha melancolia vem mudando nos últimos tempos. Hoje, gosto de falar de sofrimento, principalmente meu. Eu quase gosto mesmo de sofrer, de sentir decepção, vergonha. Vejo todos os meus projetos arruinados e quase acho graça. Acentua o meu sentido de ironia; rir de si mesmo... Mas é falso e eu bem sei, assim como sei que não quero... Não existe diferença em estar no centro das luzes, ou na penumbra... Aquela criatura sempre está aqui, aqui dentro, ele irá me destruir, e ela me destrói.

Farei novamente. Bem sei. A distância é cada vez maior, cada vez mais distante. Hoje, amanhã, depois... O melodrama dos bons cidadãos não me importa, dos meus amigos, saiu sem dívidas, dos meus inimigos, uma vitória sofrida e um derrotado de valor. Só lamento, de fato, por aquelas pequenas crianças do fundo da sala, os esquisitinhos. Gostaria de abraçar todos os esquisitinhos. Aqui vai um coração morto, malogro, cheio de caricatura e pantomima.



“La tristesse durera toujours”

Vincent Van Gogh

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