segunda-feira, 2 de maio de 2011

Acústica da noite


"Três ruas depois do ponto de encontro da praça, lembra?", mesmo segundo andar de velho edifício e estreito, "cuidado com a travessia, aumentaram a rua". O vulto magro; um amigo de outros tempos, um conhecido distante hoje; segue falando sem parar. Não sei qual me deu, mas estou mesmo aqui.

Bateria no fundo, vazia, de cor escura e marca popular. Faltou o baterista. Tecladista decai nas teclas, os seis ou sete presentes escutam distraídos. O baixista acompanha lento, mais rápido, um improviso, dois, segue. Uma menina canta "Dindi", Vaughan (É uma sorte, sempre foi a minha cantora favorita e não é lá muito cantada aqui). Tão marasmado o lugar, igual.

Vou ao balcão. Tomo um gole de algo quente. "Devem... Já nem lembro". Não me reconhece. Tanto tempo depois sou mais um cliente. Mais um. Nem melhor, nem pior o lugar. E eu?

Não reconheço ninguém, só o barman que não me nota. Estou assim mudado de aparência? Nada. É o tédio de mais um dia mais um dia, vendo os mesmos sujeitos e as mesmas atitudes de todos que encontram. Os olhares de distração. Nos melhores momentos, de confusão, nos momentos de cover, descontração. São os gostos do silêncio de vida, gritando solto ou sussurrando. No meu ponto de vista, o depois é o verdadeiro prazer.

Nas calçadas tocando algo, nariz vermelho. É assim que gostam de ficar e morrer. E nem se culpe, nem se culpe de nada.

"Você é o baterista de hoje?". Diz enfim o barman. "Não te conheço? Vini, Aaron... Sidi, né?"

Fala dos causos, conhecidos, desconhecidos. Os sumidos, os perenes. Trocando ideias enquanto espero meu amigo baixista também. Tinha entrado em conversa com o dono da casa; "antigo dos nossos, o Sid, então, está aí. Vamos tocar umas e outras". A menina muda, e volta em Chico - já estão chateados, e assim satisfeitos, vez por outra só querem melancolia. Estúpido tudo no melhor dos sentidos.

Aprisco de pequenos anseios.

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