segunda-feira, 9 de maio de 2011

Finiverim - A parábola



"Velho e febril bibliômano, procurando em velhas negras e renegadas estantes por antigo relicário (maior e sublime dentre os relicários), prova última de sua paixão, sucumbiu em desvário. Ao encontrá-lo portanto, atônico, pungente, nele o relicário colossal fantasma; sacro escrito, guardado, palavras em mortuária fatura. Jamais existidas.

Dizia assim;

O mais forte suplanta o fraco, e o múltiplo abandona o único. Danado; derradeiro dos fortes, único e invariado. Danado do passado, anelo ao passado, força sem poder. Poder, sem haver. Extensão sem contingência, potência sem vontade. Finado, homem último, finadas, palavras caladas, finado, medos aceitos, finado, verbo não-dito, finados, miríades miríades de corpos, finados, miríades de seres, todos os fins, todos os inícios, factus eum... E tu, olho que observa, é o pó do vazio, e o abismo, e o desuso, próprio abismo que contempla. E ele é tu, e tu, nada

Cinzas de um velho deus, sagrados escuros. Sucesso de quem tudo desejava reter, e tudo verter. E o sucesso foi ser retido, e pela morte retirado, eliminado, em magnitude, extingido. Pois ao soar de - nada - Bibliômano inexistiu. Jamais, e em qualquer tempo. Meu amigo,

Aureliano... Teu nome nunca dito: Aureliano".




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Eu lhe ofereço minha vida.
Você pode me dar eternidade?
O mundo é tão vazio
Eu não posso viver e não quero mais
Eu lhe ofereço minha vida.
Você pode me dar eternidade?
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(Exitus, E Nomine)

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