quinta-feira, 5 de maio de 2011

A Roupa do Rei



Dingle Behn pensava no Honesto Abe - daquele livro engraçado sobre vampiros. Olhava para o teto em profunda inquietação sobre as férias. Mulatinhas latinas, ou meditação oriental? A dúvida o atormentava. "Nos bons tempos existia trabalho. Agora, nada de russos, nada de chineses, nada de cubanos. Acho que vou passar na terapia".


Caminhou quatro metros; entrou no elevador; saiu dezoito andares abaixo: Recursos Humanos do Pentágono.


- Muito bem, Sr. Behn, como vão as coisas? E o pequeno Dave?

- O pequeno Dave, Samantha, já é um meninão. Recebeu a chamada do M.I.T. ontem.

- Legal.

- Eles crescem e você nem vê. Como vai a vida? Vai sacal. Sem espionagem decente, só esses piolhos árabes e suas idiotices hereges, Dave no M.I.T. Meus pais voltaram para a Holanda, sabe? Estou sozinho.

- Você é divorciado?

- Graças a Deus.

- Ai, Behn... O Takau e o Rodriguez devem passar o caso dos protestos na Albânia para a sua jurisdição.

- Eu sei, eu sei. Takau, Rodriguez, ninguém aqui tem nome inglês já reparou?

- A América é o mundo Behn.

- É pra isso que ganhamos nosso salário.


Riram. Papos de escritório. Entrou.


- Muito bem pessoal colocando os problemas para fora. Livre. Isso. Ei, Has, não faça isso na Humani, sim? Nos pilates. Relaxando.


Terapia, aquela coisa. Então a segunda parte: conversa;


- Meu nome é Dingle Behn.

- Oi, Behn.

- Dingle? Não é Dinglee o certo? - calado Has - Desculpe, mas o certo é Dinglee.

- É melhor calar essa boca, seu cretino... - Behn, calma - ... Tá bom, tá bom. Olha, direto ao ponto o Leste Europeu era interessante, entendem? Tinha os soviéticos, e a Guerra Nuclear. Hoje não. Está chato agora. Sabe, eu não sei. Sei lá. Tinha a Liberdade e a Servidão, né? Os malditos inimigos ateus e enganadores pobretões e sacanas, as pequenas burguesias provincianas pra calar... Mas... Está tudo depressivo... - depois de um bom quarto de hora debulhando geopolítica - Na verdade entrei em uma crise da meia idade.

- Acontece com todo mundo, Behn. O Rodriguez está passando pelo mesmo - Ontem comprei um McDonald's em Havana, e chorei - Sim, sim, fale, quero todos abrindo seus corações.


O pequeno Da Silva resolveu abrir a boca também. O "Da Silva" era bom apenas no Mardi Gras com as bestas do Sul, e nas Copas do Mundo, no resto nem sabia português nem conhecera seu avô latino. Caladão. mas naquele dia, foi o assunto da semana e ainda é o melhor assunto nos tediosos corredores do Pentágono:

- Eu matei o Bin Laden.

- Foi o você? - todos perguntaram, incluindo a terapeuta.

- Descobri a morte dele em 2008. Eu sou da Oriente Médio.

- Legal, cara - É isso - Pegamos o porco, não? - deixem ele falar.

- ... Eu não sabia se o Governo divulgaria a morte dele nem nada, fiquei com medo de ser punido ou morto por saber demais, mas, vejam, minha mulher me acordou e então vi na TV. Foi mágico, caras. Foi bom demais.

- Estão vendo? É assim que eu quero todo mundo. Motivação. E agora, vamos para a música...

- Eu estou me sentindo o porra do Capitão América! - exclamou o feliz Da Silva.



Foi uma das muitas reuniões terapêuticas divertidas em Washington.

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