quinta-feira, 19 de maio de 2011

Chuva D'Ouro


No retrato seu rosto leve, cabelos encaracolados, sorriso franco, olhar de candura acolhedora. Carrego comigo. É o rosto que alguém pode desejar ao chegar de um mero dia chuvoso, ou de uma longínqua viagem. Ou olhar e entreter, quando quiser pensar em tais estâncias. De um retiro do mundo. As mãos acolhedoras da natividade.

O trem ritmava cada impacto vagão em vagão. Um "tafi-tafi" contínuo. Rostos entrando e saindo pelas estações; primeiro abundantemente, e então lento esvaziamento de fisionomias. Enquanto o móvel percorre casas, visíveis borrões, quebrando o Espaço. O trem preserva o sentido de deslocamento sufocado no subterrâneo mudo de um metrô. E fico pensando naqueles messiânicos "trens-bala" cortando fatias do globo por linhas finas e curtas como fazendo turismo nas equações de Einstein. Mas aqui é lento, as casas são borrões em série, e não desgrudamos do ritmo mais lento do mundo totalmente.

Deslocamento. Para aqueles que gostam de viajar, o sentido de ir sem pretensões por condições quais sejam, sem pretensão maior de chegada; é o vivo desejo e primeiro satisfazer. É a primeira motivação. As ruas, as gentes, as estradas, pequenas pensões, matas altas, o reencontrar de lembranças em suas materialidades ou o encontrar de amigos, novos horizontes, frescor de novos amores. Mesmo no olhar distante, ou da distância, sentir o acolhimento carregado na roupagem da pele, aos lábios, aos ouvidos, a ventura sutil de um caminho para seguir ou retornar.

Retorno. Depois de muito tempo enfim.

Ao amanhecer. Orvalhado e translúcida aurora feita como chuva de ouro. Estou em terra, meu ano. Sinto o aroma que me pertence e pertencerá: Estou em casa.

Um comentário:

S. Quimas disse...

Amigo, uma obra de arte.
Não preciso dizer mais nada.
Abraço.
S. Quimas