sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Mau Ladrão


Sabe o porquê do povo escolher Barrabás?

Na real, a espada vale mais que a palavra. Toda verdade tem sua força, mas nada é páreo para a força da própria força;

E estou na tensão do fio.

No Velho Oeste Carioca, como em todo o resto da Capital, os boêmios encontraram um adversário temível nos últimos tempos: a embriaguez. O Choque de Ordem farejando em todos os cantos carros ébrios, pela felicidade dos turistas, e pelo café dos guardas, e pelo voto do Governador. "Todo mundo feliz"; Quem?! Quem não bebe, dirigindo, depois do horário comercial? Gente casta já está na cama, é o porra que vaga pelas madrugadas para a alegria do Sistema querendo mostrar serviço. Com quem, hoje, e agora? Comigo.

O animal de nossa sociologia não é um Leviatã cheio de tentáculos, mas uma Hidra, de três cabeças prontas para morder: força policial e a Lei, milicianos e justiça interna, assunto de traficante. É preciso se ver com as três. Nos assuntos de traficantes, o perigo ambulante pronto para matar por vinte reais é o viciado alucinado, chegando perto do fim da linha - quero dizer, quando o sujeito deixa de viver para vagar como uma mosca ao redor de bocas de fumo. É um bicho avulso perambulando atrás de qualquer problema por um dinheiro rápido. Roubar, vender os pertences da família, vez por outra em conjunto até mesmo uma blitz. O drogado mais característico na verdade vive nas doses homeopáticas do vício. A família muito dificilmente abandona de todo. E assim mesmo que não se pense no traficante como um gênio e industrial do desamparo, pois estão todos nos limites de suas ignorâncias. Quais são seus desejos? Tênis de marca, e um funk com seu nome.

Com a milícia outros quinhentos, e vez por outra em notas de cinquenta. O miliciano não é um bandido movido por necessidades ou desespero, é outra categoria. O miliciano faz aquilo que a polícia não faz, e daí, juiz, advogado, e esfolador de sua própria justiça. Hoje a coisa anda capitalizada, ainda assim é mais complicado lidar com os milicianos. Entender sua justiça, e passar longe de sua punição. Esqueça os acordos; ele não vai barganhar em sua particular sentença, apenas no resto.

E ainda, olhe só, é um cretino policial verdadeiro. Vejo pelo espelho o andar molejado, o corpo rotundo, o ombro de bronco. O miliciano, sendo de reserva, afastado, ou aposentado, perde os cacoetes. O policial corrupto é pior que o bandido e o miliciano juntos. É o desdém do primeiro com o oportunismo do segundo, guardado pela hipocrisia da Lei, da justiça técnica. Ele só quer o mandar, e o tirar uma grana. Fazer fortuna contra seus vizinhos. É o tipo mais desprezível e mais frequente: é bem certo que perderei alto aqui, e o cretino vem devagar. Parece gostar, e pela olhada no meu carro, vem contando dividendos.

Contra todos os meus justos temores os casos extraordinários: O simples policial, fazendo o seu serviço, doido pra dormir. Concursado sem esquema, plantonista, pequeno salário e família respeitada e saudável. O tipo que não vai aceitar "cafezinho". Então a honestidade aparece, viva, real, embaraçando as nossas conformidades.


Pede meus documentos, desço, o bafômetro me dana. Acontece. É justo. Vez por outra, o condenado arrependido ganha o rodízio no paraíso. Nem só de maus ladrões é feito o Calvário, não é verdade?

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