domingo, 12 de setembro de 2010

A Gota e a Graça Suficiente


Conhecida no período pré-moderno como a doença dos reis; certa dor nas juntas, um mal-estar continuado, tênue, porém doloroso, uma moleza de morte. A Gota.

Uma moléstia toda especial e infernal. E de real, apenas a presença e não a qualidade. Muito comum entre os nobres medievos. Se eram mesmo todos entrecruzados, fazendo não ser tão espantoso encontrar cães com lábios leporinos, por assim dizer, coisa comum é pensar que doenças hereditárias fossem banais em todas as dinastias. A Gota era uma delas.

E nisso tudo penso em Jansenismo, nesse Catolicismo com espírito protestante...

Nada é tão ruim para a Graça Eficaz de um cidadão do que a Gota. Ela não te deita, não te larga. Moça faceira, atordoa as mãos, irrita a mente, desconforta a tranquilidade. É crônica, e pode como uma droga matar aos poucos... Gera Cálculo Renal, agrava quadros de diabetes... Nada de tão romântico como canta o velho Hesse, também um gotoso.


Nessa vida de moléstias e indagações, vivemos no entremeio, tendo um tédio pouco aborrecido como nossa realidade, prazeres enquanto sonhos, dores enquanto multas.

Já dizia o velho Boi:

Ser Necessário: Existem seres que podem ser ou não ser (contingentes), mas nem todos os seres podem ser desnecessários se não o mundo não existiria, logo é preciso que haja um ser que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser.

Tomás de Aquino.


Felizmente a Gota não é contingente. A mesma mão que dói, é a mão que escreve a dor: Ela é o Ser Necessário.

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