segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Nota românica

Exortações aos de pouco memória

Aquele que teme o passado teme também o presente. Como criança, afirma sua própria identidade mediante a rebeldia contra os pais, como se a sombra fosse mais real do que o contorno. Diferente é a maturidade intelectual; aqui, constrói uma forte paliçada, experiente, tendo como estacas madeiras de velhas florestas. Não são mesmo os bobos bons em viver de insultos? O espírito forte respeita o mestre por confiar na própria espada. Fica assim um medicinal veneno aos insensatos.

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De fato, todos os caminhos traduzem Roma. Roma. Tenho grande acuidade e um olhar cortês aos romanos e suas utopias, tão sangrentas, sinceras e belas. As dúvidas que traduziam Cipião, o Velho, refletiam a penumbra romana entre a beleza dos filhos de Helena, Palas Atena e seu encanto, e a selvageria do sangue, herdada do pai dentre todos os pais, Rômulo, filho dos lobos. Não existiria Rômulo mesmo na dureza de Sêneca, em suas duras palavras de paz? Calígula, em seu despeito de tudo, não estaria sendo ele mesmo uma filosofia de seu hedonismo? E não fez Juvenal de Aníbal seu demônio de teatro? Quem viajará os viligantes? Seus medos, responde. Não foi Augusto o Primeiro Ator?

Das longas estradas e de suas legiões e do incêndio da Cidade-Mãe e da tempestade de suas paixões. A mesma beleza esnobe de Suetônio e Plínio, no deboche amargurado de Ovídio e Tito Lívio, e a mesma amargura de Virgílio, na sátira de Horácio. A megalomania de Júpiter, encarnada nos Imperados primeiros, não seria o mesmo morto orgulho, de Marco Aurélio e dos primeiros cristãos?

Roma, Roma, nosso pai, Roma. Se ao menos a beleza dos olhos romanos não fosse o saciar parco de um lobo satisfeito em quebrar e partir, talvez, com cabeça de leão e asas de penas, não tivesse morrido o mundo para renascer outra vez.

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