terça-feira, 21 de setembro de 2010

A parábola dos dois homens solitários

Eles vivem andarilhos na aridez forte e vaidosa da superficialidade, a vida simples, material, sem sentido e causal, solitária sem grupos, solitário sem irmãos, solitários sem confrades, viver sempre refutado e afirmado. Observam tudo tanto de perto quanto de longe, caminham em todos os sítios, não assentam nenhum. Em tudo são desacreditados pois em nada acreditam, pois em nada compartilham, e a razão é a pena com a qual sacrificam e vivificam. Sozinhos, distantes das profundezas claras da rotina, e das delícias das nuvens ideais. São bandoleiros. São, mesmo assim, opostos ao extremo.



O primeiro passa por todas as coisas sem pernoitar, mas anuncia com voracidade. Caminhou em todos os sítios e de todos nada conserva. Perpetua o hábito de ir - Sempre por ir. Lá ao longe é sua casa. Se é habilidoso? Por vezes, em vezes. Dedilha a viola, passa um passo, reconhece as mais brandas vontades, são tão breves quanto ele, tão ilusórias quanto ele. Tentar compreendê-lo é ver seus passos... Apenas.



O segundo pernoita, brinda até o último copo, não anuncia, mas vai sempre. Permanece sem permanecer em todos os sítios e de todos conserva saudades. Conserva o vício de ir - Ir é sua necessidade. Em busca de casa, distante. É amável, e tenro, acolhedor como a bonança. Conta todos os causos, é brando e loquaz. Confiam e estimam, mas vai... Nenhuma confiança abranda o desejo de uma confiança maior, bem, logo além".

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