segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O bisneto de Rameau

- Pois é daí que digo, meu amigo, Tu, confidente. Pompéia via além dos próprios olhos.

- Retorna aos Cavaleiros Andantes. Teu Eu é tão pretensioso! Vais explicar as curvas do mundo agora... !

- Tu, amigo meu, é cego por não desejar a visão. Vejamos nós: Não era Hércules Divino o herói antigo, do mundo da força, dos sacerdotes, dos primeiros poetas? Não era Sócrates, depois como Jesus, o herói meridiano, do mundo do pensamento, dos ascetas, do pensar como Deus?

- Lá vamos nós... Pergunto-me: “Pensas em Platão enquanto alivias as tripas?”

- E no mundo moderno? Sabe quando ele surgiu?
- Cruzadas? Grandes Navegações?
-Qual nada! Surgiu em Orlando Furioso, de Ariosto.
- Doido! Uma droga de um poema?!

- No poema, sim, na sátira aberta e despeito ao nobre: Cavaleiro, místico, aguerrido, cortês. Orlando vai contra tudo isso, pois já é tempo de ser outro.
-É fácil deleitar a língua em defuntos. Fala do hoje, coveiro!
-Ariosto iniciou, e James Joyce concluiu. O herói está morto.

- Quem?
-Todos. O herói morreu. Todos os heróis estão mortos. Graça e viva, direitos iguais, democracia, já não é mais tempo de idolatrar o homem. Veja, se já não idolatramos nem mesmo o Pensamento ou Deus? Ulisses amigo, a tragédia do homem comum, é o calabouço dos titãs.

-De poesia fala em política e religião. Papo de doido. Amigo, convence teu Eu inchado, a vida aqui no mundo real anda realmente trágica. Lembra: O herói morre no final.


Eu pensei, mas sem responder: “Morre, vencendo”. Mas são simplificações.

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