segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Queimar os próprios textos

:[Um rabisco de algo maior]:


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Acredito que o prosador, o poeta, o misticista da palavra, enfim, acredito que o escritor só alcança real maturidade quando é capaz de destruir seus próprios textos.

O desapego de si mesmo, a desnecessidade de público, a segurança completa em si mesmo e o ato de sacrificar a si mesmo, ao mundo. Existe algo de sublime, supranatural, antinatural, tragíco, louco e sábio aí:. Imaginemos então aqueles poetas orientais de Bukowski queimando seus poeminhas espirituais, imaginemos Gogol, louco(?), queimando seus últimos trabalhos, imaginemos Salinger escrevendo para si mesmo por mais de três décadas, imaginemos Kafka desejando a destruição de suas obras...


* O suicídio é a positivação máxima da vontade humana

- Arthur Schopenhauer.


... Desapego; que não tem relação com um resumo, ou com aquela versão ruim que será melhorada, ou com os supostos artistas mecânicos que só conhecem o frio da métrica (alguns muito famosos e aclamados, aliás), ou coisa que valha igual, mas desapego de uma parte de si, o desapego de uma emanação de nossa vontade, de parte do ego, da própria condição de ser. Tudo isso, muito longe do artista comum, verdadeiro, mas imaturo.

Da minha parte - E falo sem qualquer remorso ou comiseração - Nas minhas duas tentativas de suicídio enviei, muito metodicamente e com completa serenidade (não pensem que o suicida está desvairado, ele não está), todos os meus melhores textos para amigos próximos. O desejo de morte não superou a ideia de deixar todos os meus escritos largados. A ideia de morrer, inexistir, sim, mas pelo menos garantir a possibilidade de um suposto "valor" depois de morto, tal como o homem comum que conserva na gaveta aqueles poemas da adolescência, ou aquele violão velho, ou aquele garoto que rabisca o caderno, cheio de gravuras, para entregá-lo ao colégio no fim do ano com uma "marca pessoal".

A vaidade humana supera a morte, já dizia Aires.

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