domingo, 12 de setembro de 2010

Os pássaros


A qualidade do pássaro é medida pelo canto. Ouvi muitos pássaros. São todos trovadores; cantam aos amigos distantes, aos amores ausentes, cantam com orgulho, mas não falam de nada e com nada estão presos. Os pássaros só cantam, ou melhor, falam livres seus pensamentos. Arregalam as goelas e começam a tocar estridente, disforme, arrepiado, acalorado, com muitos tons, canto longo, curto, como apito ou sirene. Cada pássaro canta seu canto, todo pássaro canta um canto.

O desprendimento é total. O pássaro é vaidoso, sim, mas é brando, e se gosta, é gostar pouco e breve e intenso. Come e aceita a comida, mas quer ainda a brisa, o vento ao alto. Inquieto e insistente, selvagem sempre, e de todos os lugares. Se a natureza tem sua canção, ela é equalizada pelo constante e perene cantar dos pássaros. Marcam um terreno, caracterizam uma paisagem, entre os ramos vegetais e os animais, e o vento e a terra, lá estão os pássaros fazendo barulho, fazendo canto. Em todo canto ele canta, ele o pássaro.

... E é melhor ouvi-los cantar assim natural, livres, de todos os pássaros soltos para todos os pássaros, do que apenas um aqui, em minha mão, para cantar bonito ao meu ouvido, dizendo "Lá, quero estar!". Dizendo:

"Ser sempre um livro aberto. Expressar toda a própria singularidade. Em um, e em todos os lugares e meios.

Querer morrer dizendo com ironia, satisfação e saudade:


Não levei nem mesmo minhas cinzas"

OBS: http://www.helenmusselwhite.com/page5.htm

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