domingo, 12 de setembro de 2010

Tolkien

Existia por detrás daquela mesa um professor polido, centrado, chamado Tolkien

Quando penso em um modelo de escritor, penso em Tolkien. Não por seu arcadismo trágico, ou por seu anglicanismo arraigado, por sua ojeriza ao moderno, seu catolicismo temperado, nem pela escrita em epopeia... Não.

Mas, nas suas cartas encontrei um grande agrimensor de ideais, um espírito imenso, um mundo interior tão vasto quanto o exterior. Lia dois livros, quando decidi começar com essa aventura pela literatura, e um deles era As cartas de J.R.R. Tolkien, publicado por seu filho Christopher. Era então artisticamente, como ainda agora, um desenhista ruim, um baterista não muito bom e artesão (pintura em tecido). Autodidata e amador sempre.

Tolkien desgostava de alegorias, e pontuava com frequencia seu desgosto. Disposição que só compreendi escrevendo, depois. Esses teatros morais demasiados, essas constantes imagens insinuantes, eliminam a seriedade do escrever trágico. Mantinha uma postura crítica consigo mesmo, independência intelectual e acuidade. Diferente de C.S. Lewis, seu oposto semelhante, não tratava de propor suas reticências morais em tudo quanto escrevesse. Embora, também, não fosse um remendão extravagante.

Estava mais preocupado com a coerência intrínseca de suas tramas do que com o indefinível e metafísico "gosto do público". Escrevendo de acordo consigo, com sua própria coerência, sem o quimérico desejo de ser original. Até porque, desejar a originalidade é o primeiro passo para não tê-la.

Em certa carta reclama de não poder escrever. Um hábito contínuo. Mas não é escravo de seus textos, não pensa apenas em seus parágrafos, e, como me parece o mais apropriado, não sonha comer e beber disso. Viver de vender arte para editoras, e esperar o gosto do público para garantir a comida, subverte o homem...

O motivo maior, porém, é outro....

... Como em seu próprio Bilbo, como em seu próprio Condado, quando observamos seu rosto redondo, passivo... A impreensão é de... Grandiosidade.

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